
FOTOS: Todas As ‘Ilustrações de Sexualidade Explícitas’ do ‘Fun Home’ de Alison Bechdel
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Como um amante da literatura, é sempre um pouco emocionante quando alguém começa um tumulto por causa de um livro polêmico. Por um lado, as objeções sempre são levantadas pelas pessoas que na verdade não leram os livros do quais elas estão reclamando, mas pelo lado positivo, as pessoas ainda acham que os livros tem importância! Esse é exatamente o caso com o bafafá na Duke University por causa da memória ilustrada de Alison Bechdel, Fun Home, que foi enviada para todos os calouros no começo do verão. O programa Common Experience da Duke tem a intenção de provocar discussão em eventos de orientação, mas a seleção de livros desse ano levou alguns estudantes a se sentirem ofendidos.
Juntamente com livros como Maus e Watchmen, Fun Home é um das obras mais conceituadas da literatura ilustrada já escritas. Em 2009, a Time chamou de um dos 10 melhores romances ilustrados já escritos; é uma memória, não um romance, mas mesmo assim. Baseado na vida da própria autora, o livro conta a história de uma jovem lésbica sendo criada por um diretor de uma funerária gay não assumido.
No inicio desse ano, uma adaptação musical do livro ganhou um Tony Award de Melhor Musical. A essa altura é um titulo que deveria estar no catálogo da literatura americana do século 21. Eu não tinha lido o livro há um tempo, então eu fui até a minha biblioteca pública local, onde o livro é apropriadamente colocado na prateleira com os livros juvenis. Dando uma olhada rápida, eu encontrei uns peitos, pelos pubianos e um corpo nu de um homem morto. (Fun Home e um diminutivo para Funeral Home (Casa Funerária). O pai da Bechdel era um agente funerário. Essa parte não é para ser sexy.)
Brian Grasso não saberia disso, no entanto, porque ele não leu o livro. O nativo de Cumming, Georgia se sente marginalizado pela decisão da escolha docente sobre o livro, aparentemente porque ele não se refere a vivência de homens brancos héteros cristãos: “Duke parecia não ter pessoas como eu em mente,” disse ele. “É como se Duke não soubesse que a gente existia, o que me surpreende.”
O Facebook de Grasso é privado, assim como o grupo do Facebook da Turma de 2019, mas as palavras dele foram republicadas no Duke Chronicle, um jornal estudantil. A lista pública de livros preferidos do Grasso inclui a Bíblia, muita música cristã contemporânea e esse filme muito moralista chamado Deus Não Está Morto (God’s Not Dead) que estrela o ex-Hércules Kevin Sorbo e o ex-Superhomem Dean Cain. Grasso também curte Family Guy, o que aparentemente não viola as suas convicções religiosas apesar do fato do criador Seth MacFarlane ser ateu declarado e do programa ser tão imoral (de uma perspectiva cristã) quanto é possível em uma rede de tv.
Duke, não esquecemos, é uma potência esportiva nomeada em homenagem a um barão do tabaco da Carolina do Norte. A universidade se encontrou envolvida em um número de escândalos ao longo dos anos, de atletas trapaceiros a um escândalo infame de estupro envolvendo o time de lacrosse e acusações mais recentes contra uma estrela do basquete.
É raro que livros sejam contestados em nível universitário, mas Fun Home não é nenhum desconhecido da polêmica. Já foi contestado (isso é, pessoas pedindo para removê-lo do currículo) por estudantes indignados em Utah, Carolina do Sul e mais recentemente na Califórnia.
Grasso nunca prestou uma queixa formal, apesar de que ele publicou um editorial no Washington Post explicando que o desinteresse no livro decorre de imagens específicas e não das temáticas gays do livro:
“Se o livro explorasse os mesmos temas sem as imagens sexuais ou linguagem erótica, eu teria lido. Mas ver imagens de atos sexuais, independente do gênero das pessoas envolvidas, entra em conflito com o caráter sagrado do sexo. Minhas crenças se estendem à cultura pop e até à arte renascentista retratando sexo.”
Simon Partner, professor de História Japonesa e diretor do Instituto de Estudos Asiáticos/Do Pacífico de Duke, trabalhou no comitê de seleção do Common Experience de verão, e ele sabia que a seleção do Fun Home levaria a uma exaltação de ânimos:
“Por causa da sua abordagem da identidade sexual, o livro tende a ser controverso entre os estudantes, pais e graduados. Eu acho que isso, por sua vez, vai estimular discussões interessantes e úteis sobre o que significa, como um jovem adulto, adotar uma posição sobre um assunto polêmico.”
Grasso e o outro calouro insatisfeito talvez não sejam más pessoas. Adolescentes são conhecidos por terem convicções firmes, afinal. A bio dele no Washington Post diz que ele “é um entusiasta da promoção de desenvolvimento econômico na África subsaariana,” o que é nobre, embora um pouco assustador considerando o que o cristianismo americano praticou em lugares como Uganda. É apenas uma pena ouvir que alguém que acaba de entrar na esfera da educação superior adotaria um posicionamento antieducação tão firme. Também é uma pena que eles vão perder uma ótima obra da literatura americana. Mas ainda há tempo para eles abrirem as suas mentes e, aliás, mudarem de curso.
Ah, a propósito, aqui estão todas as imagens de Fun Home da Bechdel que poderia ser interpretado como até um pouco ‘pornográfico.’ Você vai ver que a maior parte é bastante inofensiva.