Foto de beijo gay em ponto turístico causa revolta aos visitantes
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Um casal gay está no centro de uma polêmica envolvendo uma das atrações turísticas mais populares do país: ao esperarem o teleférico para subir o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, os visitantes costumam fazer fotos com a cidade do Rio ao fundo (na verdade é um croma oferecido por uma empresa). Daí que a propaganda do serviço traz dois meninos se beijando no cartão postal escolhido.
Pedro Lotti, que administra a empresa que oferece o serviço, diz que optou deliberadamente por colocar o beijo gay na frente e no centro – e admite que recebeu um fluxo enorme de reclamações sobre o assunto.
“Fiz isso especificamente porque cerca de 70% dos nossos funcionários são homossexuais e têm problemas sérios por causa disso”, disse Lotti, que é heterossexual, ao The Intercept. Ele acrescentou que queria garantir que as pessoas LGBTI soubessem que a atração era um lugar seguro para elas serem elas mesmas.
“Na verdade, demorou um pouco para poder ter uma foto de casais gays se beijando porque a maioria tem medo de fazer isso”, disse ele. “Sempre, na entrada, percebi que os casais do mesmo sexo eram cautelosos ou com medo de se tocar, dar as mãos ou beijar em suas fotos. E eles caminhavam até a área das fotos, depois saíam e voltavam várias vezes, obviamente com medo de como as pessoas reagiriam”.
Sempre que eu via um casal que eu pensava ser gay, eu perguntava: ‘Vocês são um casal?’ Se eles dissessem sim, eu lhes dizia: ‘Se vocês quiserem pegar na mão ou se beijar, por favor, fiquem à vontade”.
Os caras que aparecem na foto da propaganda, um casal de visitantes de Minas Gerais ao norte do Rio, consentiram em ter o seu beijo para os mais de 1,5 milhão de visitantes que chegam ao pico anualmente. Há outras fotos em exibição, incluindo casais heterossexuais, mas a dupla gay sempre parece deixar as pessoas irritadas.
“Recebemos reclamações todos os dias”, ele admite. “Eles costumam reclamar, especificamente, que a foto está na linha de visão para as crianças e ficam com raiva porque seus filhos viram a foto”. Os pais costumam alegar “que não é necessário colocar uma foto como essa em um lugar onde as crianças vão ver”.
Nem sempre a reação é negativa, acrescenta ele. As crianças perguntam aos pais sobre a foto e algumas simplesmente dizem que “é amor”. “” Isso não aconteceu com frequência. Não é comum, mas fico feliz quando vejo os pais falando abertamente e com tranquilidade, porque as crianças nunca têm problema com isso”.
“O problema”, disse Lotti, “é sempre com os pais, não com as crianças”.
Embora o Brasil reconheça o casamento entre pessoas do mesmo sexo e os desfiles de orgulho no Rio e em São Paulo sejam reconhecidos internacionalmente, a homofobia ainda é um grande problema no país, que tem a maior taxa de homicídios de pessoas LGBTI no mundo. Em média, mais de uma pessoa é assassinada todos os dias – muitas vezes brutalmente, com seus corpos queimados ou desfigurados, especialmente motivados por evangélicos anti-gays que se infiltraram na política, como o congressista Jair Bolsonaro, do Partido Social Cristão, que disse uma vez que preferia que seu filho morresse a ser gay.