Meu corpo, nem sempre minhas regras. A descoberta veio muito depois.

Meu corpo, nem sempre minhas regras. A descoberta veio muito depois.

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Meu corpo era, para mim, tudo o que tinha sobre ser eu e sobre minha sexualidade. Porque ser adolescente gay no final dos anos de 1980, vivendo na periferia, sem internet ainda, sem acessos a locais mais descolados, me impossibilitava de entender o que meu corpo representava para mim e para os outros.

Por muito tempo, acreditei que ser gay era dar para os caras, ou seja, ser passivo. Que o homem ativo não era gay. Acreditava que beijo na boca era privilégio dos casais héteros. Aliás, nem se viam ou se sabiam sobre casais gays, em tempo. Ser gay era ser viadinho, bicha, ser objeto de uso dos que queriam ter prazer sem a menor preocupação com o meu prazer.

Quase me conformei com isso até os 22 anos, quase me conformei com a ideia de que aquilo era o que me restava: ser objeto de lazer de quem queria sexo. Eu já tinha experiência sexual, mas não me tinha dado a chance de penetrar alguém, de usar meu pau, de estar do outro lado.

Até que, dado momento, quando novos amigos me pertenciam e quando entendi que tinha liberdade para explorar lugares com pessoas diversas, me relacionar com gente com mais vivência e me permitir experimentar sensações novas, eu descobri que tinha pau. Finalmente um mundo de prazer, sensações e liberdade surgiu na minha frente, mas sempre esteve ali, reprimido, obscuro.

A relação entre ativo e passivo não precisa ser escravatória, fechada, mandatória para um dos lados. A escolha e a decisão vêm com o tempo, e para mim, esse tempo foi um martírio, embora gostasse (e ainda goste) de ser penetrado. Eu apenas vivia a frustração de não entender por que a coisa não evoluía no sexo para mim.

Quando, finalmente, penetrei um cara, percebi que transar era muito mais que meter ou dar pra alguém, mas poder entregar e limitar meu corpo de acordo com o que era importante para mim, o que me fez ficar um bom tempo sem sexo. Foi incrível descobrir que ele estava sempre ali, à minha espera, ao meu dispor, ao meu prazer. Ainda que fosse para uma punheta solitária.

Meu corpo nem sempre me proveu minhas regras, mas a descoberta dele sim. E quem não se adequar a elas, pode partir para o próximo, porque o meu prazer é mais importante.

Este texto é original do bee40tona. Sigam no Instagram.

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