Pesquisadores eliminam pela primeira vez HIV do genoma de animais vivos
Pesquisadores eliminam pela primeira vez HIV do genoma de animais vivos, segundo matéria publicada no Daily Mail. O estudo reuniu cientistas da Faculdade de Medicina Lewis Katz, da Universidade Temple, e do Centro Médico da Universidade de Nebraska, e foi publicado em julho na revista Nature Communications. A pesquisa representa um avanço importante para o desenvolvimento de uma possível cura para a infecção de HIV em humanos.
“Nosso estudo mostra que tratamentos para suprimir a replicação do HIV e terapia de edição gênica, quando aplicados sequencialmente, podem eliminar o HIV das células e órgãos de animais infectados”, conta Kamel Khalili, professor e chefe do Departamento de Neurociência da Universidade Temple, além de diretor do Centro de Neurovirologia e do Centro de NeuroAIDS da mesma faculdade. O outro pesquisador sênior do estudo foi Howard Gendelman, professor de doenças infecciosas, chefe do Departamento de Farmacologia e Neurociência Experimental e Diretor do Centro de Doenças Neurodegenerativas do Centro Médico da Universidade de Nebraska.
O tratamento atual do HIV foca no uso da terapia antirretroviral. Essa técnica suprime a replicação do HIV, mas não elimina o vírus do corpo. Portanto, não é uma cura definitiva, e requer uso durante toda a vida. Se o tratamento for interrompido, o vírus volta à ativa, recomeçando a replicação e levando ao desenvolvimento da AIDS. A volta do HIV ocorre porque o vírus tem a capacidade de integrar sua sequência de DNA nos genomas das células do sistema imune do hospedeiro, onde ficam adormecidos e fora do alcance das drogas antirretrovirais.
Em um estudo anterior, a equipe de Khalil usou a tecnologia de edição genética conhecida como CRISPR-Cas9 para desenvolver um novo sistema de terapia gênica, focado em eliminar o DNA do HIV dos genomas das células que abrigam o vírus. Em ratos e camundongos, eles mostraram que o sistema de edição genética poderia eliminar com sucesso grandes fragmentos do DNA viral das células infectadas, impactando significamente na expressão gênica do HIV. Porém, assim como a terapia antirretroviral, a edição genética não consegue eliminar completamente o HIV por si só.
Nesse novo estudo, a equipe combinou o sistema de edição genética com uma estratégia terapêutica recém-desenvolvida, conhecida como Terapia Antirretroviral de Liberação Lenta com Efeito Prolongado (LASER ART, na sigla em inglês). A LASER ART foi desenvolvida por Howard Gendelman em colaboração com Benson Edagwa, professor assistente de farmacologia no Centro Médico da Universidade de Nebraska.
Essa técnica atinge os “santuários virais” e mantém a replicação do HIV em níveis baixos por grandes períodos de tempo, reduzindo a frequência necessária de aplicação do tratamento antirretroviral. Esses medicamentos de longa duração surgiram de alterações farmacológicas na estrutura química dos medicamentos antirretrovirais. A droga modificada foi empacotada em nanocristais, que prontamente distribuem a substância para os tecidos onde o HIV pode estar adormecido. A partir daí, os nanocristais ficam armazenados dentro das células por semanas, liberando a droga aos poucos.
“Queríamos verificar se a LASER ART conseguiria suprimir a replicação do HIV por um tempo suficiente para a CRISPR-Cas9 se livrar completamente das células afetadas pelo vírus HIV”, explica Khalili.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores usaram camundongos modificados para produzir linfócitos T humanos, suscetíveis à infecção de HIV, permitindo infecção viral de longo prazo e latência induzida pelo tratamento antirretroviral. Quando a infecção se estabeleceu, os camundongos foram tratados com a técnica LASER ART e, sequencialmente, com a CRISPR-Cas9. No final do período de tratamento, as cobaias foram examinadas para checar a carga viral. Análises revelaram a eliminação completa do DNA de HIV em cerca de um terço dos camundongos infectados.
“A grande mensagem deste estudo é que é preciso tanto a CRISPR-Cas9 quanto a supressão de vírus por meio de um método como o LASER ART, administrados em conjunto, para produzir uma cura para a infecção do HIV”, diz Khalili. “Agora, temos um caminho claro para seguir: testes em primatas não-humanos e, possivelmente, ensaios clínicos em pacientes humanos ao longo do ano.”
“Essa conquista não poderia ter acontecido sem um esforço extraordinário de uma equipe que incluiu virologistas, imunologistas, biólogos moleculares, farmacologistas, e pesquisadores da área farmacêutica”, diz Gendelman. “Só conseguimos fazer essa descoberta pioneira ao juntarmos nossos recursos.”
Fonte: Universidade Temple