Prefeito Marcelo Crivella é acusado de censurar peça com Jesus travesti no Rio
Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), está sendo acusado de censurar a peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, espetáculo já proibido em duas outras cidades por grupos conservadores que traz uma atriz travesti interpretando Jesus Cristo.
A apresentação, que seria encenada esta semana na Arena Fernando Torres, no Parque Madureira, zona norte, não vai acontecer de fato e o prefeito, em vídeo publicado em seu Facebook, diz que o cancelamento ocorreu por conta do fechamento prévio da arena após ordem judicial. No entanto, Crivella também diz que a considera ofensiva aos cristãos.
“O espetáculo ofende a consciência dos cristãos. Essa arena está fechada. E na minha administração, nenhum espetáculo, nenhuma exposição vai ofender a religião das pessoas. Eu não vou permitir. Enquanto eu for prefeito, vamos respeitar a consciência e a religião das pessoas”, defendeu.
O que não faz sentido é que no começo de seu vídeo, Marcelo Crivella diz que a notícia, publicada no jornal O Globo, de que ele teria censurado o espetáculo é fake news. Assista:
Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura do Rio reafirma que não houve cancelamento da mostra. “Por força de mandado de segurança, processo nº 0092486-69.2018.8.19.0001, o espaço está com todas as atividades suspensas há cerca de um mês. Toda a programação na Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira, está suspensa e não apenas a Mostra Corpos Visíveis [na qual a peça se insere]”, informa o comunicado.
A produção da mostra Corpos Visíveis disse que o espetáculo estava agendado na arena para os dias 8, 9 e 10 de junho, mas que na segunda-feira, 4, chegou a posição final da Secretaria de Cultura de que a programação estava cancelada.
A assessoria divulgou a seguinte nota:
“Destacamos que esta intervenção direta do Prefeito não é uma prática comum ou mesmo aceitável, visto que se trata de um estado laico. Trata-se nitidamente de censura à visibilidade e livre expressão artística dos corpos LGBTQI+, femininos, negros e periféricos. A peça já sofreu tentativas de censura em outros estados e aqui mesmo no município com perseguições sofridas por trazer uma atriz travesti no papel de Jesus e um roteiro que questiona ‘E se Jesus vivesse nos tempos de hoje e fosse travesti?’. A produção da Corpos Visíveis garante que a peça não busca ofender cristãos, mas cria um questionamento sobre a falta de tolerância e respeito nos tempos atuais pregando o respeito e o amor incondicional”.